"Dá-me a tua mão desconhecida, que a vida está me doendo, e não sei como falar ..." Clarice Lispector
 

sábado, dezembro 25, 2004

 
Os Meus Natais


Natal para mim se divide em três fases. Tem o Natal da infância, o Natal da adolescência e o Natal da maturidade. Tal qual a vida.

Lembro de que quando era pequena o Natal me deixava nervosa. Quando o mês de dezembro chegava, não havia outro assunto, tudo girava em torno do dia de Natal, as conversas dos adultos, as ruas, as lojas, as músicas. Era tudo meio assustador e mágico. Tinha que rezar para o Menino Jesus que ia nascer, ou já tinha nascido, sei lá, nunca entendia direito. Tinha que escrever para o Papai Noel contando como havia me comportado, para merecer receber o presente que queria, que eram tantos, mas ele só podia trazer um. Tinha a vontade imensa de ver Papai Noel chegar à meia-noite e o medo enorme de estar acordada à meia-noite e de ver Papai Noel. Mas era mágico! A casa ficava linda, a família toda reunida, os tios e primos que nunca via, e os avós. Ah, Natal da infância com os avós...! E toda aquela expectativa terminava com beijos, abraços e presentes. E aquele momento de alegria compensava a ansiedade vivida.

Na adolescência a mágica havia acabado. O Natal passou a ser um dia triste em que sempre faltava alguém. E a cada ano era mais um que faltava, que nunca mais ia estar entre nós. Nunca mais Natal com os avós, nunca mais... Crescer era muito chato! Já sabia que o Papai Noel que vi no céu, passando entre duas nuvens, de trenó puxado pelas renas, era fruto da minha imaginação de menina. Já sabia que aquele presente que eu nunca esqueci, não tinha sido dado pelo Papai Noel. Já não escrevia cartas para ele, a melhor forma de ganhar um presente era dizer, como quem não quer nada, que tinha visto alguma coisa muito legal. Encontrar Papai Noel no shopping era ridículo. As ruas, as conversas, as músicas, tudo era chato! E o mais chato de tudo era ver aquele bando de adultos no dia de Natal, gritando para as crianças que o Papai Noel estava indo embora pela janela ou pelas escadas, e aquela gritaria das crianças correndo atrás do Papai Noel. Um saco! Não igual ao do Papai Noel, mas com a cara de um adolescente.

Então veio a maturidade e com ela a nostalgia de tudo que ficou para trás. A infância e o medo de Papai Noel, a adolescência e sua rebeldia e arrogância, a saudade dos que se foram, tanta coisa... E o que era mágico passou a ser apenas a vida, com suas dores, suas perdas, suas memórias, suas saudades. As ruas enfeitadas, o movimento nas lojas, as músicas, tudo volta à lembrança, e a emoção corre frouxa nas conversas cheias de lágrimas. Mas nem tudo é só nostalgia, há muita alegria também. Que alegria é descobrir que agora é você quem faz a mágica, é você quem pode transformar o Natal num dia encantado para as crianças, para os seus filhos e um dia para os seus netos. Ah, Natal com os netos deve ser tão mágico como o Natal da infância!



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